quinta-feira, 14 de junho de 2012

A dança dos dervixes numa xícara de chá

Conta a historia dos oráculos que a leitura da borra de café se originou da leitura das folhas de chá. Lembremos que o cha se originou na China há mais de 5000 anos! E na Índia já se liam as folhas de chá muito antes do aparecimento de café na historia. Uma lenda chinesa diz que no ano de 2737 AC, o imperador Sheng Nung descansava sob uma árvore quando algumas folhas caíram em uma vasilha de água que seus servos ferviam para beber. Atraído pelo aroma, Sheng Nung provou o líquido e gostou muito dele. Assim nascia o chá. Esta lenda refere-se á infusão de chá verde proveniente da planta Camellia Sinensis, originaria tanto da China quanto da Índia. No século VIII, na China, durante a dinastia Tang, definiu-se o papel da China como responsável pela introdução do chá no mundo. Posteriormente o povo japonês incorporou o chá ao seu dia a dia, por médio de uma das mais belas cerimônias orientais: a cerimônia do chá. Esta cerimônia está baseada em quatro princípios: harmonia, respeito, pureza e tranqüilidade. Assim como o café é nossa companhia diária, o café moído á turca é especial e tradicionalmente se utiliza para ler a borra de café. O chá preto também faz parte do dia a dia do povo turco e tem um sabor intenso e forte. Em qualquer lugar e a qualquer hora é muito bom beber um chá preto! È servido em copos pequenos em forma de tulipa símbolo da Turquia. Para fazer o chá turco se utiliza um equipamento chamado çaydanlik, que são duas chaleiras sobrepostas. Coloca-se água na chaleira de baixo e uma colher de chá (dependendo do número de pessoas que vão beber) na chaleira de cima. Deixa-se ferver a água e logo se incorpora a água bem quente á chaleira de cima onde está o chá. Já para fazer um bom café turco, se utiliza uma jarra, chamada cevze. Na leitura das folhas de chá, não podemos usar copos, já que como eles são transparentes, não poderíamos visualizar de forma clara as imagens. Utilizamos uma xícara, também em forma de tulipa ou com formato de flor de lótus, de cerâmica branca. As imagens deixadas pelas folhas de chá são mais abertas, e muitas vezes poucos símbolos aparecem nela. Pessoalmente leio como mensagem, buscando apenas um símbolo, aquele que tenha mais destaque, aquele que inspire a minha intuição. Buscando esse símbolo tive a alegria de encontrar nas folhas de chá, um dançarino. Ao principio ele me lembrou á Kaldi, o pastor que descobriu o café, com sua cabra dançante. Logo lembrei dos dervixes e a sua dança. Mas o que significaria esta imagem simbólica? A dança dos dervixes alcança seu ponto máximo quando começam a girar, assim que entendi que aquilo que preocupava ao meu marido, ainda tinha um tempo para ser resolvido (ele tinha bebido o chá). Ainda muitos passos deveriam ser dados, com harmonia, com alegria, sem tanta tensão, e melhor! O seu objetivo será alcançado porque ele está preparado para ir enfrente e seu espírito será preenchido com uma energia especial, porque ele quer, se preparou para isso e está no seu merecimento. A dança dos dervixes é toda uma jornada espiritual Depois da morte de Mawlana Mohammed Jalalud-in, poeta muçulmano, jurista, teólogo, sufi místico, também conhecido com o nome de Rumi, seu filho o Sultão Valad fundou a mais de 700 anos atrás a seita Mevlana cuja filosofia esta baseada na procura do bem em qualquer uma das suas manifestações por isso estão contra a escravidão. No sentido místico a cerimônia de Mevlana simboliza o divino, o amor e a paixão, a maturidade espiritual e o caminho da união com a verdade divina. Estas danças podem ser vistas durante o Festival Anual de Mevlana, que acontece em dezembro. Todas as pequenas e grandes coisas fazem parte da criação: os átomos e os seus elementos, o Sistema Solar e seus componentes, e também o sangue que circula pelas nossas veias. Com um nível de conhecimento, de inteligência e com a alma que diferencia os seres humanos do resto das criaturas, o homem pode participar de forma consciente desta experiência e assim aproximar-se ao amor divino e a união com todo o Universo. A Sema ( dança “de pião”ou dança do rodopio) é uma viagem espiritual de amor e de encontro com a verdade divina. A alma une-se a Deus e volta para uma vida de amor e utiliza esse amor de forma humanitária. A cerimônia de Mevlana é um ritual que representa a união com Deus. Os dervixes mostram a sua dança atualmente no Centro Cultural de Hodjapasha, três vezes por semana com uma hora de duração. A cerimônia começa com a leitura do Al Koran e há uma entrada dos dervixes na mesquita. È então que eles tiram a sua túnica externa preta e revelam a roupa branca que esta por debaixo. Isto tem um simbolismo: libertar-se de tudo aquilo que os conecta com o mundo material. Um a um se aproximam do líder com os braços ao redor do peito, inclinam-se beijam a mão do líder e começam a girar. A música tem uma repetição frenética e os dervixes giram aproximadamente por dez minutos. Esta seqüência se repete por quatro vezes. Quando giram, uma mão aponta para o céu e a outra para á terra, simbolizando a benza que o céu outorga na terra. Assim os dervixes ao som das flautas de cana, ensinam por médio da sua dança como o corpo pode estar em harmonia com o Universo e assim é uma forma de unir-se a Deus. Seja por médio das folhas de chá ou por médio da borra de café, imagens que se formam nas paredes de uma xícara sempre deixarão uma mensagem especial, uma energia especial. Te a próxima! Mirta Herrera Camerini

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